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Um dos poemas do meu livro
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"Por detrás das Palavras"
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(esgotado em Portugal)
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a sair brevemente, em S. Paulo, no Brasil .
Expirados são os prazos, expostas estão as certezas
dos migrantes da terra direito às profundezas
- a nossa mais delicada reflexão.
É breve o juízo que fazemos das coisas. Breve
a matéria conhecida dos afectos, das dúvidas,
para deduzir equações inteligíveis.
Sofremos a candura dum olhar benévolo
por cada passo, por cada aceno de mão
dum outro viandante que se perde na estrada,
às escuras dum novo dia
e entendemos nessa predestinação a nossa luta.
Mas o caminho foi rasgado num golpe de vento
numa ravina cheia de indícios de fogo morto
num rio indolente que sabe o vigor do mar,
as rédeas dum chicote brandido à noite.
Percebemos o milagre violento dos magmas
por ver as cinzas jazidas nos corpos ardentes,
ao nascer da aurora inquieta das palavras.
Experimentamos o encolerizar das últimas
vozes da terra, nuas de desespero,
frias de lembranças destroçadas e acesas
pelo sal cristalizado num deserto de água.
Mas somos o nosso último pretexto para amar a terra
e os seus enigmas instintivos mas obscuros,
com que descrevemos a laboriosa seiva das árvores.
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em "Por detrás das Palavras", Edição Beco dos Poetas, S. Paulo