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Pobre irmã mosca, triste insecto díptero, abundante de olhos
para não ver a teia, para não respirar as trevas à luz do dia!
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Como eu te invejo, mas martirizo com vidros transparentes
azuis-brancos, imitações de fruta, aromas a romã, outras sinais
com que perdes a cabeça e ganhas o engenho da cópula,
nas lides, nas tardes chãs de apenas buscar a seiva árida!
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Ah, minha querida mosca, meu devaneio de ser homem
com olhos dentro dos olhos, para ver outras realidades, cores,
dimensões que tu nunca mediste, na tua inocência agrária
de apenas medir o tamanho do teu voo, das tuas patas ágeis
para desembarcar nos espaços nus onde reina a tranquilidade
um lugar para existir devagar sobre as coisas que são as tuas
onde encontrar outra mosca irmã, para completar a crónica.
em Terrachã, ed. AJEA