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Eis o tempo.
Olha-o.
Tenta pôr-lhe a mão em cima.
.
Não!...
Nunca serás herói que nunca houve!
.
O tempo é como o vento.
As nuvens
sou eu, és tu e são os outros;
não há vento que as não leve.
.
Já alguma vez
viste
a mesma nuvem duas vezes?
,
Já alguma vez
sentiste
o mesmo vento duas vezes?
.
Não!
O vento é como o tempo.
As nuvens,
eu, tu e os outros...
não voltam.
,
O vento improvisa
o tempo também improvisa.
Um e outro
como as nuvens que levam
passam e já não voltam.
.
Toda a coisa tem princípio.
.
O vento
ao sol e à terra agradecido
é o menino perdido
de seu pai
o tempo.
.
O tempo, que é o tempo?
Monstro de mil anos
chuva de erosão do universo;
o tempo
sopro frio ou quente
que tudo arrasta na corrente,
é o correr do berço à sepultura
é o olhar a espiga já madura.
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Todo o rio tem mar
toda a cidade tem cemitério
toda a verdade crua tem adultério.
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Eu, tu e os outros
somos a cidade flutuante
o rio que na descida ao mar vai ter
caminhando a passo para jusante.
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O tempo é como o vento.
O vento,
átomos em movimento!
,
ver mais em "37 Poemas", o meu 1º livro, 1961