Poema a Pierre Curie
. Viveste entre a pecheblenda e os ácidos
entre os deleites de Maria e a ânsia
o frenesim activo dos metais.
.
Buscavas os segredos da vida
feita mistério no coração duma pedra
muda quieta indecifrável
que vive de pequenos espasmos de energia
e brilha na escuridão dos séculos.
.
O teu raciocínio era bom
trazia a justificação do ovo
o segredo mais íntimo das estrelas.
.
Mas uma tarde partiste.
.
Como toda a gente.
.
Mas tu não partiste como toda a gente.
Morreste a pensar, a remoer o pensamento
a revolver a alma duma pedra.
.
Por isso não morreste para sempre.
.
Embora não contasses
que o distraído mecanismo duma roda
pudesse apagar nas estrelas,
o voo dum pássaro ao coração dum ovo.