sonetos #3
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Boiando sobre as águas inquietas
do lago macilento e oleoso,
vai ficando, parado e duvidoso,
o barco das viagens incompletas.
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E a Lua, dos amantes e poetas,
reflecte a vela branca do formoso
batel, no lago espelho tenebroso,
como ideais desfeitos de profetas.
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E as sombras errantes dos salgueiros
pintam fantasmas negros e medonhos,
no batel de esperanças e de sonhos.
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E o poeta e eu, os marinheiros,
escondem-se nas sombras do luar
e abraçam-se e beijam-se a chorar.
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em "37 Poemas", 1961, esg