CIRCUNCICLO
....
I
por sobre todas as suas alucinações
e escombros
pelo delírio
que é a engrenagem fugidia do ar
e suas cores de incenso e fogo
pela vida e pela morte dos símbolos
e da roda simétrica de fortunas e ocasos
a roda que rola na roleta
o rolar lilás dum sonho.
Pela voraz decrepitude das formas
e suas deambulações sobre as águas
trazendo uma lágrima aos nossos olhos
e o esmorecimento ao fogo e ao incenso
que oscilou
entre a matéria e o frágil magistério
das essências
que povoam os ares
e que habitam o ardil das folhas das árvores
num rosto filtrando um raio de sol
uma migalha de luz
agitando o correr das águas
e se esbatendo sobre o limbo tranquilo
do rio
dentro do nosso sangue.
.
Pela veloz sincronia do tempo e das chuvas
chuvas de águas e pó
de vulcões ardendo no magma
interior dos nossos corpos
como um fogo emergindo das cinzas
cinza que fomos antes de ser fogo
anterior à ideia que temos do corpo
..
formatados ao rochedo da montanha
no móvel desafio das areias
e seduzidos à lama e ao barro
onde nascemos da afinidade do pó pelas águas
no seu ministério de construir ficções
de água e pó
.
e que fez antigas ânforas
de marinheiros e mitos
afundados no Egeu e em Creta
donde emergiram as nossas ficções
ou na longínqua noite
de ignoradas estrelas
que brilharam na infância do tempo
este é o homem que somos
um incêndio
desde a noite mágica dos sonhos
e como os deuses do barro caminhamos
por sobre o barro feito luz
o sonho dos deuses do barro que fomos
refeito em luz
no quotidiano ciclo dos fascínios
o fascínio de ir refazendo o quotidiano.
.
(...)
.
(excerto do 1º CANTO, dum poema de 518 versos)
inédito