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domingo, 26 de setembro de 2010

DESÍGNIO

.
São os ventos a interpretar o verdadeiro desígnio destes campos,
migalhas de pó que se transportam ondeando as ervas e os matos
para um tempo breve, onde dispor um incêndio, junto ao corpo
das excessivas lembranças, no anónimo exílio das cidades.
 .
Quanto basta é o sossego dos lugares soltos ao festim do sol,
a asa dum insecto que se recorta no azul perdurável da terra.
 .
Assim me ensinaram os perfumes da urze, que chegam de longe,
o estorninho escondido dos olhares, desconfiado dos destinos.
.
E aqui reconheço, no chão caminho das águas, a serenidade
deste pastor imperturbável às formas fulgurantes do silêncio
que soa entre as árvores, o trânsito liberto, perpétuo, das seivas,
a exacta, útil degenerescência do conceito urbano de solidão.
 -
 em "Terrachã", ed. AJEA, 2004

52 comentários:

  1. Querido poeta.
    Podemos sentir a natureza, agreste e ancestral a emergir das suas palavras belas.
    Bj

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  2. O poema me tragou, mergulhei em suas palavras - tudo tão preciso, tão exato, que nada pode ser mudado, nenhuma palavra ou vírgula! Muito bom!

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  3. Fez-me voltar à aldeia dos meus avós, o cheirinho da urze, as cores do campo, ah, maravilha.
    Belas e deliciosas palavras. Um abraço da laura

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  4. Bons e inspirados ventos sopram por estas bandas.
    Cumps

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  5. Senti a aragem levantando as migalhas de pó, transportando o perfume do mato, e o canto das aves.

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  6. O contato com as coisas da terra, diminuem nossa solidão.
    Bonito amigo poeta.
    beijos

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Bom dia, meu caro Poeta!
    Belissimo poema como sempre!
    Beijosss

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  9. Sempre há algo que nos desperta uma lembrança, as vezes um perfume, as vezer um item, mas realmente sentir o carinho do vento e uni-lo a uma boa memória é tão bom...

    Fique com Deus, menina Vieira Calado.
    Um abraço.

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  10. Belissimo ...
    Cinematográfico ...

    Boa semana !

    Bj

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  11. Belissimo...
    Cinematográfico ...

    Boa semana !!!

    bjos

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  12. Belas palavras, firmes e contagiantes..
    Um abraço!

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  13. A solidão é o desígnio cada vez mais em voga nas grandes cidades...
    Abraço
    Mer

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  14. Nas cidades

    não há solidão

    tão só isolamento

    Muito bom poeta

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  15. O Poema encantou-me e levou-me aos tempos da minha infância e adolescência e dos muitos Verões passados na aldeia beirã dos meus avós maternos ! Tempos maravilhosos que recordo com muita saudade

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  16. A companhia da natureza,E os centros urbanos populosos e ainda assim sentimos sós!
    Belo poema. Abraços Edna

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  17. A companhia da natureza,E os centros urbanos populosos e ainda assim sentimos sós!
    Belo poema. Abraços Edna

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  18. Não há o que comentar, só o que admirar.

    B-jinhos!!!

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  19. o campo, o pastor, a cidade exilado de conhecimentos!
    beijinhos

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  20. Querido amigo e poeta, teu lindo poema, remeteu-me as histórias que meus pais contavam do tempo de crianças, quando eram pastores de ovelhas, a beleza dos campos, as brincadeiras, a liberdade de serem crianças. Adorei. Tenha uma linda semana. Beijocas

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  21. Vieira Calado
    que bom sentir a natureza.
    Foi bom passar por aqui.
    e deixo o OUTONO

    OUTONO


    Estou a ver-te...
    Árvore de Outono...
    Porque estás nua?
    Porque deixaste fugir
    As tuas folhas...
    E os teus ramos...
    Ficaram secos e frios...
    Longos e nus...
    Porque deixas
    Porque sofres?
    Porque tem frio?

    Porque...
    É preciso renascer...
    É preciso sofrer...
    Para viveres novamente...

    E assim árvore nua...
    Vais voltar...
    Mais frondosa...
    Mais bonita...
    E...
    Vais estar outra vez...
    Pronta para a nova Primavera...

    LILI LARANJO

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  22. Paisagem agreste, humana, repleta de tantos odores e cores que de tão apressada se perde num silêncio duro e sozinho. Há quem viva dessa natureza e há quem a desconheça de todo...

    É muito bela a sua forma de escrever.

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  23. da solidão citadina, onde habitamos exilados do nosso verdadeiro desígnio, os campos e suas serenas ondulações, seus aromas e "formas fulgurantes de silêncio", sua permanência. como se o "desígnio destes campos" fosse o nosso primordial desígnio.

    gostei muito. abraço.

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  24. "Quanto basta é o sossego dos lugares soltos ao festim do sol,
    a asa dum insecto que se recorta no azul perdurável da terra.
    .
    Assim me ensinaram os perfumes da urze, que chegam de longe,
    o estorninho escondido dos olhares, desconfiado dos destinos."

    Nunca se está só quando sabemos conversar com a natureza, onde o "silêncio" é um bem merecido.

    Tanto que diz este poema.
    Beijo, Poeta Amigo.

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  25. Querido Poeta...viajei em suas magníficas palavras...
    Doce semana...beijos...
    Valéria

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  26. Essa solidão vale à pena, POETA!

    Um poema que nos prende do princípio ao fim com imagens poéticas belíssimas!

    Beijos

    Mirze

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  27. Seu poema me fez voltar ao Arcadismo. Linguagem que traz o amor pelas coisas da natureza, o bucolismo como o ideal para um poeta viver. A figura do pastor me remete a esse tempo.Muito bom.

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  28. Estarei a ser justo e correcto se encontrar neste texto a emoção de uma Pastoral?

    Um abraço, Vieira.

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  29. É por isso que eu gosto tanto de ouvir o vento....

    O meu abraço

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  30. Meu querido Poeta
    estou de volta e deixando o meu carinho e um beijinho.

    Sonhadora

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  31. Os ventos. Os caminhos das águas. O trilho do poema...
    Um beijo, amigo Calado.

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  32. Olá, amigo Poeta!

    É verdade, já regressei ao lar e à vida profissional.

    O que é bom termina depressa...

    Para mim, foi mesmo um gosto revê-lo e quero agradecer o tempo que disponibilizou para estar na nossa companhia.
    É sempre muito agradável estar na sua presença e ouvi-lo.

    Beijocas.

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  33. Olá, amigo Poeta!

    É verdade, já regressei ao lar e à vida profissional.

    O que é bom termina depressa...

    Para mim, foi mesmo um gosto revê-lo e quero agradecer o tempo que disponibilizou para estar na nossa companhia.
    É sempre muito agradável estar na sua presença e ouvi-lo.

    Beijocas.

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  34. Meu caro Poeta
    Eu, profundamente citadina, carrego este apelo da natureza tão bem expresso neste poema.
    Comovente, é o que eu acho.
    Beijo
    Isabel

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  35. Sinto-te como se estivesse sentado sobre folhas caídas secas ao chão e olhando apenas um reflexo de sol penetrante varando de surpresa as árvores que te escondem e te inspiram em palavras de verde, sombra e esperança!!!
    meu afago carinhoso ao amigo

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  36. Boa Noite , Poeta !

    Aqui , te relendo ...
    Desejo uma Noite Serena .

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  37. Grande Vieira!!

    Que vai e vem inquietante...perturba a gente ao ler...muito bom..isso que chamo de texto vivo!

    []ss

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  38. Olá!
    Vim agradecer a visita pode voltar sempre!
    bjs
    Ser Estranho Ser !

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  39. no chão caminho das águas,
    -----------
    As águas, que quando se fartam da 'terra'. voam para as nuvens.
    ----------
    Felicidades.
    Manuel

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  40. Ler a sua poesia, Mestre, é um balsamo para o espírito. A imagem das palavras, entra em mim.
    Suave e de uma humildade suprema a sua frase" Assim me ensinaram os perfumes da urze, que chegam de longe,
    o estorninho escondido dos olhares, desconfiado dos destinos."
    Um aplauso sincero.
    Bjito

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  41. Profundo. Para ler e interiorizar e a "útil degenerescência do conceito urbano de solidão" tinha muito que se lhe dissesse.

    Gostei bastante.

    Abraço.

    Fernando Reis

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  42. Concordo com alguém que disse aqui:

    "Não há o que comentar, apenas admirar"...

    Enviei-lhe há pouco por email, os ficheiros referentes ao livro.

    Um beijo.

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  43. Olá, meu caro!Passando para lhe desejar uma ótima sexta-feira!
    Beijosss

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  44. Belo "passeio" na natureza, naquele verde que tanto gostamos, amigo Sportinguista e escrito no dia dos meus anos...

    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Verdinha

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  45. Oi Vieira Calado,
    Mais um lindo poema para trazer um pouco de alegria a um dia chuvoso aqui no Brasil.
    Hoje um pouco de sua poesia está enfeitando o meu blog "Gosto disto"".
    Bjkas e um ótimo final de semana para vc.

    http://gostodistonew.blogspot.com/

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  46. Oi Vieira Calado,
    Assim que o livro for lançado aqui, quero comprar! Por favor, me avise.
    Bjs

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  47. Felizmente que ainda há pastores e...poetas!

    Abraço

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  48. "...no chão caminho das águas..."

    Menciono esta como exemplo de todas as outras a que muito me habituas, rendendo-me aos teus Desígnios.

    Forte Abraço

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  49. Só para corrigir, desculpa pelo "menina" Vieira, acabei digitando sendo que depois que vi (e agora comprovei) a melda...

    Fique com Deus, menino.
    Um abraço.

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  50. De particular beleza este poema!

    "o sossego dos lugares soltos ao festim do sol"
    "a asa dum insecto que se recorta no azul"
    "os perfumes da urze"
    o estorninho escondido dos olhares, desconfiado dos destinos"

    Uma acalmia da alma!

    Bjos

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