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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ALGARVE ONTEM

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,,,,,,As duas primeiras estrofes 
.......dum poema de 4 páginas 
.....que serve de apresentação 
...........do livro de poemas
...,."ALGARVE ONTEM"
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Um dos mais antigos brazões do Reino do Algarve

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1 - Algarve de Ontem
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Sou do tempo de um outro Algarve, outras regras e preceitos,
outra condição de gente humilde e nobre
que habitou este enredo de amendoeiras e alfarrobeiras,
gente que olhava nos céus os sinais que nunca vinham,
uma quieta intranquilidade nas estevas
que amassavam devagar o pão de trigo,
o funcho que trazia o cheiro das esteiras
onde iam secando as almas e o figo das colheitas.
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Era o tempo de um outro Algarve encoberto nas aldeias
e nos campos onde ardia o azeite da candeia,
a lanterna que acendia a escuridão das noites
subjugadas pelo frio agreste de acreditar num dia de fortuna;
das mulheres embrulhadas em seus xailes negros
herdadas de avós árabes que há séculos aqui viveram
e do luto prolongado de quem só tem a vida,
que a vida é mais do que só para ser vivida
também é uma ventura partilhada,
um modelo prometido de amparo e claridade.
(...)
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A cada poema corresponde uma fotografia de antes de 1960. E a cada fotografia corresponde, no final do livro, uma das notas históricas e etnográficas, escritas por Brazão Gonçalves.

1 - O ALGARVE  - “Terra Morena” lhe chamou César dos Santos ao conceder este título a uma obra laudatória que, como grato algarvio, lhe dedicou.
Terra “mourena” se lhe poderia também chamar com histórica e mais que justificada propriedade. Com efeito, foram os mouros os nossos mais próximos antepassados e, quiçá, os mais prolongados habitantes, residentes, moradores e, de certo, apaixonados, desta apreciada e também invejada parcela do território português.
Foram eles que, dentre vastíssima herança, também nos legaram o nome que haveria de ser divulgado por esse mundo. O nosso nome Algarve não é mais que a evolução fonética, bem reduzida, aliás, do termo arábico que significa ocidente. Aqui, e até um bom bocadão mais ao norte, ao contrário do que por lá se quer acreditar, era aquilo a que os árabes chamavam Al Gharb Al Andaluz, ou seja, a parte ocidental do Andaluz, nome que davam à área por eles controlada politicamente na nossa Península.
À medida que os setentrionais invasores se iam apoderando de novas terras, a parte chamada Al Gharb ia diminuindo. Aquele que se apoderou da parcela final manteve-lhe o nome.
Posteriormente, os residentes, mouros e não mouros, fizeram a natural evolução fonética da palavra, como ficou dito.
A propósito da origem deste nome, vem aqui a propósito fazer lembrar que a palavra “algaraviada” não tem nada a ver com o nosso Algarve. Se este tem origem em “gharb” (ocidente), algaraviada tem origem em aravia (al-arabiia), a língua dos árabes. Também se lhe chama algaravia, ou apenas aravia, sugerindo depreciativamente língua obscura, difícil de entender.
A propósito também o depreciativo conceito que noutras partes existe em relação ao passado mais arabizado deste nosso Sul, deveria não ser esquecido que, quando o invasor suevo-galego-borgonhês aqui chegou, pasmo sentiu ao verificar o grau de desenvolvimento atingido por estas bandas. Na verdade, enquanto nas terras do nosso actual Norte se lutava entre mãe e filho pela disputa de um lugar com mais sol que o adversário, por aqui, em períodos bem recentes em relação a esse passado, no Palácio das Varandas de Silves faziam-se saraus de poesia e de música e discutia-se filosofia ao mais alto nível. Na opinião abalizada do Prof. Gomes Guerreiro, «.. de tal forma era evidente a sua diferença e o seu avanço científico-cultural em relação ao restante território já ocupado, que Afonso III o incluiu na coroa mantendo-lhe a categoria de reino que havia adquirido depois da dissolução do Califado de Córdova…». Esta distinção foi mantida até ao último dos representantes da vasta casa real europeia (a primeira grande multinacional), que aqui se foram reproduzindo.
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