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quinta-feira, 18 de abril de 2013

SONHO


Sem saber como nem donde eu vinha,
enfiei os pés na água
escorrendo daqueles olhos escuros que fitavam a eternidade.
 .
Estava o caminho recoberto de musgo,
líquens sobre a pedra, pedaços de ervas e árvores
decaindo aos bolores do tempo.
 .
Ao lado, uma bola prateada, redonda,
rodava na roleta e caía num poço
que se estendia às fragas da montanha
a avultar na minha frente,
derruindo.
 .
Sinto um baque no barro do coração.
Amanhã virá a manhã a sair das trevas.
 .
Sonho, logo ainda resisto.
E é pelo sonho que insisto.
 .
Mas não há maneira de sair dali.
 .
O meu cérebro trabalha tão depressa como a seiva,
como o coração da terra reclamando os seus mártires.
 .
Tanto mais que eu e ela nos aproximávamos tanto,
nos colávamos tanto na mesma visão de fogo e cinzas,
que eu comecei a perceber que não havia
nada como aquele calor que me chegava ao sangue
e me transformava num ser repleto,
saturado da ternura daquele momento,
daquela suprema verdade.
 .
Bebi da água que aos poucos
ia dissolvendo o barro do meu coração.
 .
Deixei correr as estradas,
as estrelas,
os rios do mesmo deslumbramento.
 .
Era dia,
em todas as madrugadas da minha paixão.