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quarta-feira, 16 de abril de 2008

É O VENTO A INTERPRETAR

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É o vento a interpretar o verdadeiro desígnio destes campos,
migalhas de pó que se transportam ondeando as ervas e os matos
para um tempo breve, onde dispor um incêndio, junto ao corpo
das excessivas lembranças, no anónimo exílio das cidades.

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Quanto basta é o sossego dos lugares soltos ao festim do sol,
a asa dum insecto que se recorta no azul perdurável da terra.

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Assim me ensinaram os perfumes da urze, que chegam de longe,
o estorninho escondido dos olhares, desconfiado dos destinos.

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E aqui reconheço, no chão caminho das águas, a serenidade
deste pastor imperturbável às formas fulgurantes do silêncio
que soa entre as árvores, o trânsito liberto, perpétuo, das seivas,
a exacta, útil degenerescência do conceito urbano de solidão.

em Terrachã, ed AJEA/2004