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quarta-feira, 8 de julho de 2009

HOMENAGEM A LEONEL NEVES

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A Universidade do Algarve, em Faro, homenageou o poeta algarvio Leonel Neves, no dia 10 de Julho.

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Leonel Neves nasceu em Faro, em 1921, onde fez a Escola Primária, mas as suas raízes levavam-no sempre para o Barlavento (Casalta, na serra, e Vale da Lama, junto ao mar, em Odeáxere, Lagos), durante as férias.

A continuação dos estudos foi em Lisboa, para cursar Matemática na Faculdade de Ciências e formar-se em Engenheiro Geógrafo. Durante este período, juntamente com Ário de Azevedo, Joel Serrão, Rui Grássio, pertence à redacção do jornal Horizonte, da Universidade de Lisboa.

Como poeta, em 1950, colabora com o compositor e guitarrista João Bagão, na renovação do fado de Coimbra, tendo o Dr. Paradela de Oliveira gravado dois dos primeiros fados. Fez, também, várias letras para a música do compositor e acordeonista António Mestre, que foram gravadas por Amália Rodrigues.

Encetou a sua actividade literária, publicando o 1º livro, Janela Aberta.

Depois de ingressar no Serviço Meteorológico Nacional, então no seu início, casa com Maria de Lourdes e, com os dois filhos, Ana Maria e João, parte para Santa Maria, nos Açores.

Vai a Londres onde se especializa com o Prof. Dobson na medição do ozono e, de regresso aos Açores, realiza das primeiras medições ozonométricas quando o problema da camada de ozono ainda não era do conhecimento público.

As suas actividades profissionais levam-no a Lourenço Marques (hoje, Maputo), Moçambique, onde exerce as funções de Inspector do Serviço Meteorológico, cargo que o leva a percorrer todo o território. O passo seguinte é Timor, em 1964, onde permanece dois anos e exerce as funções de Chefe do Serviço Meteorológico de Timor

Quando, em 1966, regressa a Portugal, colabora no grupo do Dr. Luís Góis, fazendo letras para vinte e duas canções e publica Natural do Algarve, Guimarães Editores, em 1968. A Universidade do Algarve fez uma 2ª edição, em 1986, prefaciada por David Mourão-Ferreira

A seguir à publicação do conto Como é a Primavera? no livro Primavera, Vol. 1 de Histórias e Canções em Quatro Estações, colecção coordenada por Maria Alberta Menéres, (Edições ASA), publica, em 1989, Ontem à Noite (Lisboa, Livros Horizonte).

A partir de 75, ensaia uma longa série de publicações de livros infanto-juvenis, muitos dos quais ilustrados por Tóssan, e participa na antologia coordenada por Luísa Ducla Soares (Areal Editores).

Nos últimos anos, Leonel Neves continua a escrever poesia e livros infantis: Visita inúmeras escolas, por todo o país, lendo e falando do seus contos, transmitindo a sua mensagem de fraternidade, mas também do imaginário e da utopia. O seu apego a uma sã pedagogia e convívio com as crianças, o seu sentido humanista e as reminiscências da juventude estão sempre presentes, e delas fez o sentido mais profundo da sua vida.

Morre, a 6 de Setembro, em Odeáxere, no concelho de Lagos. É trasladado para Lisboa, para o Cemitério do Alto de S. João, onde o corpo é cremado (como era seu desejo) e as cinzas depositadas no Jardim das Cinzas.

A 20 de Fevereiro, é postumamente lançado em sessão no Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria ll, Memória de Timor-Leste (Guimarães, Pedra Formosa, Edições). Foram ditos poemas pela actriz Maria do Céu Guerra e pelo editor, poeta Firmino Mendes. Na mesa estiveram presentes e falaram sobre o autor o Prof. Manuel Gomes Guerreiro (ex-reitor da Universidade do Algarve), o Prof. Ário de Azevedo (ex-reitor da Universidade de Évora), o Prof. Joel Serrão (historiador) e o Dr. José Blanc de Portugal (poeta, musicólogo e meteorologista).

Tinha inéditas as obras: Novas Histórias do Zé Palão e Adivinhas e Contos para Ler na Cama. E em projecto, a obra, Retrato de António Aleixo, para a qual havia reunido bastante documentação e trabalhava no livro de poesia A Cal Cúbica e as Manchas, que agora é editado.

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MINHA HOMENAGEM A LEONEL NEVES

meu grande amigo... e primo

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CAL CÚBICA

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Amigo, indefectível amigo,

amigo dos simples, das hortas, do milho

desabrochando deslumbramentos

a esvoaçar por cima de vales e serras

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já cá andam as andorinhas

que tu desenhavas em palavras

sobrevoando os lugares

de teus olhos transparentes, azuis

olhando antigas casas onde ardiam

os folguedos da tua juventude

a voz serena da simplicidade das coisas chãs

na água fresca correndo no leito antiquíssimo

do rio das tuas memórias.

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Já por cá andam as andorinhas

a desenhar as tuas palavras nos céus

a sobrevoar a cal cúbica das casas meridionais

da tua juventude

.

o milho verde das frescas hortas

as serras os montes e os vales

da mesma água antiquíssima do rio

por onde andaste

com a simplicidade dos teus olhos azuis

na frescura de folguedos juvenis

desabrochando deslumbramentos

que apenas ficaram… sabes

nos versos que escreveste.

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Este poema já foi publicado no 1º volume de 5 POETAS DE LAGOS (Liliete Cardeira da Silva, Nídio Duarte, Cristiano Cerol, Pedro Magalhães e eu próprio), ed. do Grupo de Amigos De Lagos.