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Utopia Inextinguível
Sei do teu deslumbre quando olhavas a montanha,
a leveza da luz tranquila restituída à madrugada
dos teus dias, no conturbado curso das memórias
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a crina dum cavalo respirando uma chã bandeira
de harmonias, o fraterno testemunho da utopia
inextinguível, alimento incansável dos inquietos.
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Por isso murmuro a límpida incessante insubmissão
pelas palavras, mesmo se trespassadas pelas balas,
pelo frio, nessa tarde terrível dum pátio de Granada.
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E por isso relembro ainda a teu rumor a olhar o ermo
das horas breves, um hino em seu projecto de alegria,
a voz dorida, amarfanhada, sobre a terra do teu povo.
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em "Cem anos de Garcia Lorca", ed. Universitária, Lisboa