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sábado, 14 de agosto de 2010

SOMOS UM ARQUIVO


 .
Somos um arquivo bucólico de memórias,
o mote rústico duma estrofe repetida
ecoada pelos vales, plena de sabores e sal
que transportamos pela vida, dentro do sangue,
e entretemo-nos na presunção de que cresçam
dos nossos actos as ervas regeneradas
pela primavera das vidas que perpassam.
 .
Conservamos imagens bolorentas, baços
retratos de antepassados que mal conhecemos
talvez na esperança de que os nossos filhos
guardem os nossos, ou os venerem
e evoquem outros rastos de outras vidas,
entendam a frágil angústia que foi a nossa.
 .
Elas são o espelho de cópias degeneradas
iguais à paisagem que adivinhamos na história
dos que por aqui passaram deixando lembranças
de outros dramas ou alegrias passageiras
iguais às que se avizinham no tempo que passa
por cima do grande mar que desponta os sóis.
.
em Por detrás das Palavras, ed Mic

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DO QUE EU GOSTO

 .
(Da autenticidade à metáfora)
.
Do que eu gosto é da chuva e do vento,
tremores de terra, relâmpagos
que enchem os céus de luz e dúvida,
e enlevo, pela extraordinária energia
que fez a vida dos bichos maiores
e dos bichos menores,

,
ah, como eu gosto das tempestades
de neve e de areia,
os vulcões a jorrar
as entranhas do magma!
,
Também gosto dos sóis violentos do sul,
as enxurradas do rio
trazendo a lama e o húmus,
as árvores e o inverno
antes da primavera doutras ervas.
,
O que eu não gosto é ver
meninos de áfrica de pés trucidados
por granadas
e bombas B 52,
napalm,
odeio.
.
O que eu gosto é do sabor violento
dos grandes temporais do mar
galgando a terra
com as suas enormes cores de frescura
e fantasia,

.
o frio árctico das montanhas
dum deserto árido,
no meio duma floresta tropical,
adoro.