,

,

segunda-feira, 7 de abril de 2008

.

Sem saber como nem donde

.

Sem saber como nem donde eu vinha,

enfiei os pés na água escorrendo daqueles olhos escuros

que fitavam a eternidade.

.

Estava o caminho recoberto de musgo, líquens sobre a pedra,

pedaços de ervas e árvores decaindo aos bolores do tempo.

Ao lado, uma bola prateada, redonda, rodava na roleta

e caía num poço

que se estendia às fragas da montanha

a avultar na minha frente,

derruindo.

.

Sinto um baque no barro do coração.

.

Amanhã virá a manhã a sair das trevas.

Sonho, logo ainda existo.

E é pelo sonho que resisto.

.

Mas não há maneira de sair dali.


O meu cérebro trabalha tão depressa como a seiva,

o coração da terra reclamando os seus mártires;

tanto mais que eu e ela nos aproximávamos tanto,

nos colávamos tanto na mesma visão de fogo e cinzas,

que eu comecei a perceber que não havia nada

como aquele calor

que me chegava ao sangue e me transformava num ser repleto,

saturado da ternura daquele momento,

daquela suprema verdade.

.

Bebi da água

que aos poucos ia dissolvendo o barro do meu coração.

Deixei correr as estradas, as estrelas,

os rios do mesmo deslumbramento.

.

Era dia, em todas as madrugadas da minha paixão.

.

inédito

54 comentários:

  1. Obrigado pelo seu comentário.Sim essa liberdade é consciente, e tenho noção disso. Deixe correr essa água, desde que tire esse muro de barro do coração, e será deslumbrante ver que tudo à sua volta é diferente - não muito, mas é.

    ResponderEliminar
  2. Caro Amigo!

    Como poderá verificar, após uma longa ausência estamos de regresso aos blogues, no Poesia Viva, nos Caminhos do Coração e no Observatório...

    Que sorte virmos hoje "desembocar" num seu poema tão belo e que acaba por ter algo a ver com algumas das ideias que ainda hoje postámos - nomeadamente, esta de que a VIDA É DIFERENTE e maravilhosa, quando aprender a VER e não apenas a olhar (referencia também ao blogue de um jovem Amigo em que também colaboramos, e que vale a pena ir ver: o "Perigo de Poeticidade" - tem coisas curiosas e está acessível através do nosso "perfil").


    Caro Amigo,

    Obrigada por ter vindo ao nosso blogue e desculpas por termos levado tempo a responder...

    Isabel e José António

    ResponderEliminar
  3. São visíveis os sulcos que foram rasgados. Ainda que não se saiba como nem onde.

    ResponderEliminar
  4. "Era dia, em todas as madrugadas da minha paixão." Final com chave de ouro! Belo!
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  5. Tão bonito este poema!
    A tanto nele me senti presa... tanto consegui visualizar, revendo-me; ainda que talvez num contexto diferente, mas num mesmo sentir.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  6. Estimado e talentoso Amigo:
    Adoro a fluidez poderosa e deslumbrante como poetisa as palavras. É preciso ter um sentimento que vive em si e nos dotados para escrever e sentir a poesia. Brilhante. Admirável.
    Aproveito para lhe dizer que meti hoje a carta com a quantia solicitada que me parece escassa. Olhe, fi-lo hoje.
    No comentário que me efectuou despediu-se com "beijinhos". Prezo muito a minha virilidade, por isso pedia-lhe com amabilidade que alterasse logo que possível. Sei lá: Abraço amigo, qualquer coisa, menos "beijinhos". Sei que foi descuido, acontece, mas sou um homem que ligo a pormenores da vida.
    OBRIGADO.

    Abraço amigo e sincero

    Com elevada estima e respeito

    pena

    ResponderEliminar
  7. Que maravilha! Adoro esta prosa poética que entra no coração e perfuma a alma de sorrisos!

    Um abraço de estrelinhas, com ternura*

    Fanny

    ResponderEliminar
  8. Belíssimo, tem um colorido a brincar com uma sonoridade própria a que eu até podia chamar música.

    Abraço do
    JMB

    ResponderEliminar
  9. Vieira Calado
    Gostei d poema mas este fecho é mesmo lindo:

    "Deixei correr as estradas, as estrelas,

    os rios do mesmo deslumbramento.

    Era dia, em todas as madrugadas da minha paixão."


    Um abraço

    ResponderEliminar
  10. "Era dia, em todas as madrugadas da minha paixão."
    Suspenda-se o tempo!

    :)

    ResponderEliminar
  11. Caro amigo, gostei muito do poema...Espectacular !
    Um abraço

    ResponderEliminar
  12. Seu texto desce suave tal qual o bom vinho de sua terra.
    Boa surpresa ler suas letras, viajar na sua água.

    ResponderEliminar
  13. Bel�ssimo texto amigo. Um abra�o e boa semana.

    ResponderEliminar
  14. Caro amigo Vieira Calado, gosto de poesia, sou quase um fanático da mesma, tenho várias obras de poetas conhecidos e também de desconhecidos e só lhe posso dizer, Obrigado...
    Li este e os outros poemas expostos no blog e...regalei-me.
    Parabéns
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  15. É sempre com enorme prazer ler seus belissimos poemas onde a natureza faz parte...

    Doce meu beijo

    ResponderEliminar
  16. Belo poema de amor. Não me surpreende se é pelo sonho que resiste.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  17. Muito belo, amigo! Quem dera, pudéssemos todos beber desse manancial incessante de sonhos e poesia!

    ResponderEliminar
  18. Eu amei seu poema ... Como você está girando versos para obter resultados ... Adorable e pescadores ...

    Um abraço!

    ResponderEliminar
  19. Olá querido amigo, lindíssimo poema para ler e reler, passarei mais logo... Para já os meus parabéns!
    Belo sonho amigo...
    Beijinhos de carinho,
    Fernandinha

    ResponderEliminar
  20. Que os dias despontem sempre com esta inspiração, com esta paixão. O Sol nasce todos os dias, mesmo quando nós não sentimos a sua luz e o seu calor.
    Abraço do Zé

    ResponderEliminar
  21. maravilhoso este teu texto poético ...

    gostei imenso ...

    bjs

    ResponderEliminar
  22. Olá amigo, um poema belíssimo, daqueles que nos fazem pensar!
    Um abraço,
    Lourenço

    ResponderEliminar
  23. Um poema apaixonado e reconfortante.
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  24. ☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆
    Vim aqui espreitar o teu blog e gostei bastante..passarei com mais calma...
    ☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆*´¨`*☆.¸¸.☆

    ResponderEliminar
  25. Oi!

    Excelente!
    Belíssimo poema!

    Obrigada por passar "lá em casa".

    bj

    ResponderEliminar
  26. pelo sonho vamos e... voamos! poema muito belo...

    abraços

    ResponderEliminar
  27. Amigo,

    Recebi hoje os livros. Muito obrigada. Amanhã mando-lhe uma cartinha, tá?

    Obrigada! Esta noite já vou ler.

    Beijito,

    ResponderEliminar
  28. Simplesmente brilhante! Adorei.

    Um abraço de quem um pouco à distancia (pela falta sempre do maldito tempo), vai admirando a sua escrita.

    ResponderEliminar
  29. A criação!
    Lindo!
    Bj.
    ..............................
    Obrigada pela visita no meu azul.

    ResponderEliminar
  30. Que texto gostoso para saborear palavra a palavra, verso a verso...
    Um jogo de palavras simples e cheias de sentimento, quase ingénuo, quase virgem... Achei lindo!
    Um beijo para ti...

    ResponderEliminar
  31. O tempo é escasso mas não quis deixar de passar para dar um beijinho.

    Até breve!

    ;O)

    ResponderEliminar
  32. Era dia, em todas as madrugadas da minha paixão.

    Lindíssimo!
    um beijo

    ResponderEliminar
  33. Mestre Vieira,
    Gostei muito desse excelente poema! Que busca frenética e o acordar pela liberdade da paixão de viver.

    Um bom abraço,
    ótima semana.

    ResponderEliminar
  34. Olá querido amigo, voltei e reli e quanto mais leio, mais gosto...
    " Era dia em todas as madrugadas da minha paixão."
    Simplesmente maravilhoso!
    Beijinhos de carinho,
    Fernandinha

    ResponderEliminar
  35. Lindo !Quem dera saber escrever tão lindo ...
    A felicidade é feita de pequenos nadas pequenos gestos de amor um beijo um sorriso,um olhar simpático ou um elogio sincero.Por isso aqui passei deixando tudo isso para teu fim de semana.
    Beijinho prateado
    SOL

    ResponderEliminar
  36. Olá querido amigo!

    Dos dias que passam,
    as horas vividas,
    são laços que abraçam,
    as almas queridas.

    Votos de um bom fim de semana.
    Beijinhos de carinho,
    Fernandinha

    ResponderEliminar
  37. "Sonho, logo ainda existo.
    E é pelo sonho que resisto."

    Sem os sonhos como teríamos alegria em nosso viver sobre esse chão escaldante? Após os sonhos vem o gostinho do amanhecer em nossas almas.

    Beijos favoritos.

    ResponderEliminar
  38. O que dizer, Calado? O que te sobras me falta até mesmo para expressar o quanto gostei. Da angústia dos primeiros versos que no meu peito senti até os raios do amanhecer: deslumbramento.

    Beijos e um ótimo fim de semana

    ResponderEliminar
  39. Amigo Calado. Belíssimo poema onde nos toca,das coisas e da paixão de viver.

    Beijinho de amizade e bom fim semana Lisa

    ResponderEliminar
  40. Vim agradeçer o seu comentario :)
    Aquela foto foi tirada "da net" mas é do farol da foz onde o mar Quando revolto bate ali com uma força imagimavel.lindo,para se ver.
    quanto a poesia adorei, e voltarei para reler.

    Bom fim de semana

    ResponderEliminar
  41. "era dia todas as madrugadas de minha paixão", plástica e modável, de multiformes desdobramentos, por se barro o coração.
    meu abraço,
    luis

    ResponderEliminar
  42. Lindo Lindo

    e o final?! Sublime!

    Escreves muito bem!

    beij

    ResponderEliminar
  43. Hoje, a minha inspiração fica aquém do que estas linhas merecem...
    Parabéns.

    ResponderEliminar
  44. Os amores maduros são sempre os melhores.

    ResponderEliminar
  45. Eu adjectivo este poema de sublime. Mais não poderia dizer...

    ResponderEliminar
  46. Sempre me comove o dizer, num punhado de palavras, tanto que é como se um ciclone nos viesse tomar, só para nos levantar os pés do chão… porque lá, acima dele, existem sonhos… flutuo

    (obrigada)

    ResponderEliminar
  47. O meu cérebro trabalha tão depressa como a seiva...~

    adorei todo o poema mas adorei ainda mais a frase...simples e original...
    abracos...

    ResponderEliminar
  48. onde vai a ternura que havia nesse rio? gostaria tanto de ler-te outra vez assim.borboleteando nos couves, em luas e rios, penso que eras mais feliz.

    ResponderEliminar