16 - BARCA
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Contemplar esta imagem, esta barca doutros séculos,
essas personagens concretas que viveram outras
vidas,
outras balbúrdias de céus e mar, sob o tecto exíguo
dum amanhecer limpo de comparanças a outros tempos
~.
navegando a sóis e luas, ventos de sueste a norte
e marés de angústia ou fé na crença dos presságios
que liam nas cores inscritas em sinais do céu
nocturno
ou em búzios que luziam promessas de corvinas e
robalos.
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Contemplar esta imagem é navegar estas águas, a crença
que presidia aos destinos, para sempre desprendida
duma onda que veio de longe aqui morrer, junto à
praia
onde se extingue a luz que desce devagar sobre os
olhos.
***
16 - Barca. Foi numa barca que
o diabo de Gil Vicente carregou os vários personagens da Trilogia das Barcas,
dos quais, após a crítica moral de cada um, apenas deixou passar para a barca
do Paraíso quatro cavaleiros que morreram combatendo e um parvo que não errou
por maldade.
Era também numa
mitológica barca que Caronte, o barqueiro dos infernos, para aí transportava as
almas dos mortos através do Estige, rio que rodeava esses mesmos infernos.
Mas aqui, neste
mundo, nesta terra, mais feliz e mais real, foi também em barcas que, em bons
tempos, se carregavam os nossos frutos secos para exportação e se descarregava
muito esparto e muita palma, com que se faziam as nossas úteis e indispensáveis
alcofas e demais artefactos, cuja utilidade actualmente se limita a ser
“souvenir” do visitante estrangeiro, mas que para nós ainda funciona como souvenir-saudade de genuínos tempos
passados.
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em LAGOS ONTEM, 2ª Edição da Câmara Municipal de Lagos
*
Esta e as outras notas históricas e toponímicas do livro, são de José Paula Borba
Gosto da imagem, dos versos, de Gil Vicente. Aqui mesmo, no Ceará, já foi muito encenado, por meu irmão Teatrólogo, e muitos outros...
ResponderEliminarGosto, que tragam o antigo para hoje...Costumo fazê-lo, também...
Um abraço, Calado
Achei lindo: "souvenir - saudade de genuínos tempos passados."
ResponderEliminarBeijos!
Um belíssimo poema complementado com este apontamento que lhe confere mais profundo significado.
ResponderEliminarLídia
Seu post de hoje brinda-nos com um belo poema e um pouco de história da civilização. Excelente!
ResponderEliminar[ ] Célia.
Gil Vicente, será eterno e sublime.O texto complementar aprofunda ainda mais o poema e...a barca está pronta a partir por esses mares.
ResponderEliminarBeijo
Graça
Boa memória
ResponderEliminarAbraço
E não se pode enfiar os desgovernantes na barca dos infernos?
ResponderEliminarAbraço
Olá meu caro,
ResponderEliminarpassando para deixar o meu abraço e apreciar as suas, sempre belas, palavras.
Grande abraço
Leila
Grande Poeta,
ResponderEliminarMaravilhoso poema e evocação.
Sensibilizei-me como sempre.
Um grande beijinho com muita admiração.
Ailime
não são palavras jogadas.. são todas colhidas de uma época que deixou suas marcas..
ResponderEliminarbjs.Sol
Um Poema muito bonito , como é habitual, e uma narrativa interessaaante àcerca das barcas que nos transporta épocas longinquos !
ResponderEliminarFoi um regresso ao passado! Sendo nós um país de marinheiros, pois as barcas, os barcos, as nossas caravelas, os navios acompanharam sempre a nossa História.
ResponderEliminarGostei da comparação do meu dedal com uma caneca de cerveja. Não me tinha lembrado dessas, ah, ah, ah! Bjs
Boa noite, poeta....
ResponderEliminarVim desejar uma ótima semana, além de alimentar minha alma com um belo poema.
Abraços!
Meu querido Poeta
ResponderEliminarUm belo poema como sempre e informação muito boa, é sempre bom recordar.
Um beijinho
Sonhadora
Trazer-nos à lembrança tocantes versos é generosidade.
ResponderEliminarAqui gostamos imenso desta obra...
Abraços
E a lembrança de um tempo longuínquo deixa a saudade! Lindo poema, bjs.
ResponderEliminarPoesia linda onde percebo que navegas em águas mais profundas da sensibilidade...
ResponderEliminarObrigada pela visita lá no meu blog.
Grande abraço...Bom fim de semana!
Gosto de tudo nesta postagem: poema e imagens.
ResponderEliminarBom sábado, meu amigo.
Caro Vieira Calado
ResponderEliminarUma Barca que traz tantas lembranças de vidas vividas no seu embalo.
Abraço
Olinda
Porque o mar e as viajens fazem parte do nosso ADN, e GV uma referência cultural que devemos recordar.
ResponderEliminarCumps
Contemplando essa barca e acompanhada de poesia, divaguei até outros tempos.
ResponderEliminarBom domingo
Beijinhos
Maria
Oi Vieira Calado,
ResponderEliminarEu estava com saudade de vir aqui.
Adorei o poema e o texto me alerto para o fato de nunca ter lido Gil Vicente, mas sempre é tempo de começar.
Tenha uma ótima semana!
xoxo
Gosto disto!
Foi emocionante, ler este poema e contemplar esta foto.
ResponderEliminarBeijos e obrigado por partilhar
Olá Vieira,
ResponderEliminarMuito bom ler seus escritos.
Achei interessante o destaque para o "souvenir" do visitante estrangeiro e achei bonita e nostálgica a expressão "souvenir"-saudade.
Beijo.
Para a «Vera Lúcia».
ResponderEliminarÉ que em línguas estrangeiras parece que não há equivalente para a nossa palavra "saudade"...
Bjsss