sexta-feira, 9 de julho de 2010

POEMA A UM PARDAL


 -
Quanto, pardalito,
comungas do meu tempo!

És meu irmão no espaço duma vida -
a minha e a tua vida
no tempo que é o nosso.
 .
Por isso somos irmãos irrepetíveis
no espaço do tempo
que o tempo dá às nossas vidas.
 .
Por isso, irmão,
de todos os que vivem o espaço que é o nosso,
eu te pertenço como me pertences
e todos nos pertencem
porque a todos pertencemos
e à terra ao céu e ao vento
do tempo 
e do espaço do tempo irrepetível
que é nosso! 
8.7.2009

segunda-feira, 5 de julho de 2010

POEMA A UMA VELHA ÁRVORE

 .
O perfil duma velha árvore enche-nos de alegria.
,
A sua sombra traz-nos a presença tranquila da terra,
a forma da própria Terra, a sua frescura fraterna.
.
É uma pátria renovada de palavras anunciadas, lidas
nas vozes do rio, nas rotas do sol transbordante;
.
ela restitui os desvelos relembrados desde infância,
a cândida explicação dos perfumes pronunciados
noutros tempos imateriais, mágicos de plenitude;
.
traz a serenidade neutra, a harmonia dos outonos
na imagem dum rebanho que regressa pela tarde,
nas chuvas temporãs próprias do cheiro do barro,
a secular legítima ideia dum tecto restaurado;
.
organiza os enxames, une os sons do ar instável,
esvanece o orvalho vagaroso deslizante do corpo.
.
O colo duma velha árvore é o sonho duma criança
perpetuando a redobrada paz, e acende na água
rumorejante das fontes a sedução dos pássaros.

.
em Terrachã, ed. AJEA